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Foto do escritorTatyany Nascimento Pereira

Selecionamos “350 notas fiscais” de despesa

Atualizado: 23 de jun. de 2020

Um ex-cliente me ligou reclamando da abordagem da auditoria em selecionar 350 notas fiscais de despesa. Com isso me veio à mente as infinitas vezes que eu precisei refazer a abordagem de auditoria para sermos assertivos no pouco espaço de tempo e recursos disponibilizados tanto pelo cliente em disponibilizar uma pessoa para separar a documentação quanto para a auditoria em disponibilizar uma pessoa para analisar a documentação.



Introdução


A auditoria é a especialização contábil que busca verificar a veracidade das informações registradas pela empresa. Possui uma norma específica de procedimentos, a qual todo auditor deverá estar ciente, para concluir eficazmente seu trabalho. Auditores relapsos em relação à normatização trazem para si mesmos o risco de emitir opiniões errôneas em relação aos itens avaliados, inclusive a sua criatividade em busca de fraudes se torna extremamente reduzida.


Com isso ao longo da história, diversas foram as ocorrências de escândalos contábeis envolvendo grandes empresas e as respectivas empresas de auditoria, marcando a atividade profissional dos auditores e rompendo com a visão tradicional acerca da responsabilidade e papel desses profissionais. Recentemente tem-se em evidência o caso Petrobrás, que de acordo com dados divulgados pela Polícia Federal, a KPMG e a PricewaterhouseCoopers (PWC) validaram balanços da estatal que incluíam gastos com projetos superfaturados (auditores validaram propinas nas demonstrações financeiras contábeis) no período de 2008 a 2012.


Auditoria contábil


Para que os trabalhos desenvolvidos pelos profissionais de auditoria tenham credibilidade é necessário que estes cumpram suas funções de forma a não permitir quaisquer tipos de dúvidas quanto a sua integridade (HOLLINGSWORTH & LI, 2012). Por isso, foram criadas as normas regulamentadoras ditadas pelos órgãos contábeis CFC (Conselho Federal de Contabilidade), IBRACON (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil) e CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regulam a profissão e determinam as diretrizes a serem seguidas pelos profissionais no desempenho da atividade de auditoria.


Para Almeida (2010), a auditoria das demonstrações contábeis visa expressar uma opinião a respeito das demonstrações financeiras da entidade auditada, e para tal, precisa fazer um planejamento do seu trabalho, avaliar o controle interno e analisar todas as contas, colhendo evidências de que as informações estão corretas. Verifica-se que a auditoria contábil pode ser conceituada como o levantamento e análise de todos os processos e das demonstrações financeiras de uma entidade. Quanto à avaliação das demonstrações, o objetivo é a emissão de opinião acerca de sua adequação no que tange à aplicação das normas de contabilidade e outras aplicáveis à entidade e que afetam materialmente os números contábeis a serem divulgados. A auditoria faz um monitoramento de áreas-chave da entidade auditada, aplicando testes (de controle e substantivos) regularmente para avaliação do controle interno, a fim de inibir a ocorrência de possíveis fraudes, desfalques e subornos (CREPALDI, 2010).


O auditor tem a função de assegurar que as práticas contábeis estejam sendo aplicadas de forma correta na empresa auditada, no entanto, não está entre suas atribuições a identificação de fraudes, ainda que através do exercício da atividade isso possa ocorrer. Ele deve planejar toda a execução de seu trabalho, avaliando os fatos e riscos contidos nas demonstrações financeiras a serem analisadas.


Fusiger e Silva (2014) verificaram quais as infrações cometidas pelos auditores no período de 2007/2013. Os autores analisaram processos julgados pela CVM, sendo 267 processos em rito ordinário e outros 49 em rito sumário. Identificaram que destes, 19 processos referiam-se a auditores com registro no órgão. Dentre as infrações cometidas, identificaram 27, sendo que a inadequação dos relatórios (37,04%), falhas no processo de planejamento e execução dos trabalhos (18,52%) período pré Lava Jato - e problemas relacionados ao registro do auditor (11,11%) representaram 67% dos processos abertos contra auditores.


Conclusão


Profissionais de diversos segmentos vivem me questionando como a auditoria não conseguiu identificar os problemas encontrados pela Operação Lava Jato. Como sempre procuro explicar quais os procedimentos os auditores externos independentes realizam nas despesas e podemos observar que a auditoria externa falhou quesito analise das despesas e se essas despesas houve de fato a execução do serviço.


Os auditores acostumaram-se a solicitar a nota fiscais (NF), comprovante de pagamento, cotação, etc., todo o chek list de itens determinados no controle interno da Companhia, porém ao que me parece não foi executado o procedimento que iria mitigar ou identificar tais problemas é a busca incansável pela evidencia da prestação do serviço.



Eu por muitas vezes me vi analisando centenas de notas fiscais que em um determinado ponto já não fazia sentido e forcei a equipe a refazer os passos de avaliação de risco, procedimentos analíticos e indagação a administração acerca das despesas que na avaliação do auditor estavam fora do “padrão” ou “exceção”.


Hoje há diversas técnicas de analise de razoabilidade, técnicas de analise de padrões comportamentais de despesas, técnicas de indagação ao pessoal chave da administração, técnicas de comportamento estatístico, etc. Todas essas abordagens ajudam o auditor a direcionar os testes e que ele possa identificar assuntos significativos não divulgados pela administração, pois ela tende a gerenciar (Teoria da Agência), ou seja, não queira abrir para o auditor.


O que fica evidente nos processos de auditoria na era pré e pós Lava Jato é que a abordagem da auditoria no quesito analise das despesas falhou drasticamente, pois como experiência própria os senior’s, gerentes e sócios estão preocupados com a QUANTIDADE DE DOCUMENTOS SELECIONADOS e não com a QUALIDADE DOS ITENS QUE FORAM SELECIONADOS - grifo nosso.



Tema sugerido pelo meu grande amigo e parceiro Taiguara Nascimento.


Fontes:


Auditando os Auditores: Motivações dos Processos Contra Auditores junto à Comissão de Valores Mobiliários no período de 2007 – 2013 <http://fucamp.edu.br/editora/index.php/ragc/article/view/564>


Contabilidade criativa e responsabilidade dos auditores <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-70772003000200001>


Um estudo das fraudes contábeis sob duas óticas: Jornais econômicos versus periódicos acadêmicos no período de 2001-2004 <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rcmccuerj/article/viewFile/5601/4078>

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