top of page
Foto do escritorTatyany Nascimento Pereira

Os auditores externos são inúteis para os investidores?

Atualizado: 23 de jun. de 2020

A cada crise novas lições são aprendidas, as crises são novas, as lições antigas. A auditoria é um setor em que a credibilidade é fator fundamental. Até que ponto deve-se responsabilizar a auditoria, e os gestores da empresa?


Ao longo do tempo há demonstrações que houve de fato uma gestão fraudulenta, na qual mecanismos contábeis foram utilizados para dar uma falsa impressão de que a empresa estava bem, e a empresa de auditoria nada detectou, ficando demonstrado ao final a responsabilidade das firmas de auditoria, trazendo mais uma vez a questão da independência dos auditores.


Esta relação de confiança é freqüentemente comprometida pela inesperada quebra de empresas, fraudes e falhas. Tais eventos trazem a tona algumas questões que envolvem a auditoria, dentre eles a questão que envolve a independência dos auditores, e também servem para refletir sobre o papel da auditoria na sociedade contemporânea.


A auditoria é realizada nestas corporações por grandes empresas de auditoria, as chamadas big four, PricewaterhouseCoopers (PWC), a Deloite & Touche (D&T), Ernst Young (E&Y) e KPMG. Juntas auditam uma boa parte do PIB mundial, e são elas as responsáveis por analisar, avaliar e dar um parecer sobre as demonstrações financeiras contábeis.



A crise financeira levanta algumas questões antigas e novas sobre auditoria. Há constantes afirmações, especialmente dos mercados, de que a auditoria externa aumenta a credibilidades nas demonstrações financeiras, e esta credibilidade provem da opinião de que o auditor tem conhecimento dos processos internos da empresa auditada.


O que pode contradizer esta hipótese, é o fato de que a maior parte das empresas, tiveram um aparecer sem reservas, e a maioria feita pelas grandes empresas de auditorias, alguns casos brasileiros: OGX, Banco Santos, Banco Panamericano, Petrobras, JBS, Grupo Odebrecht, OAS, OI S.A., entre outras, agora mais recente descoberta de fraudes bilionárias na Via Varejo.


Dificilmente o público em geral não culpe a auditoria por não ter detectado fraudes absurdas nas demonstrações financeiras contábeis dessas empresas. De forma geral pouco é sabido sobre como são feitas as auditorias nestas e outras empresas, quais provas e documentos são analisados e cujos processos não são disponíveis.


Interessante fazermos uma provocação aos auditores externos: qual é a materialidade que o auditor julga como necessário para concluir que as demonstrações contábeis estão livres de distorção relevante? Por que a materialidade de auditoria não é informada aos usuários das demonstrações financeiras contábeis?


O outro problema nos processos de auditoria, diz respeito ao modelo de auditoria e da renda obtida pelos serviços, em que, as empresas de auditoria são capitalistas e necessitam de renda para remunerar seus diretores e pessoas envolvidas nas auditorias, fazendo com que haja uma falta de independência o que faz com os auditores de silenciam em momentos de crise.


Pouco se sabe sobre os processos de auditoria e valores institucionais associados a produção do relatório de auditoria, tais processos envolvem a gestão do trabalho, incentivos econômicos e as imagens dos clientes, públicos e reguladores. Em busca de lucros empresas exercem pressões de tempo e orçamento fazendo com que auditores respondam adotando práticas irregulares e mesmo recorrendo à falsificação de papéis de trabalho.


Por mais de um século auditores têm utilizado métodos de uma era industrial em que os bens tangíveis podiam ser examinados, contados e medidos os seus valores a partir documentos como recibos, notas fiscais, contratos, etc. - auditor adora uma nota fiscal e um comprovante de pagamento – sic.


No mundo capitalista atual onde existem instrumentos financeiros complexos, como derivativos híbidros, derivativos sintéticos, swaps, etc, cujo valor depende de acontecimentos futuros incertos e podem variar qualquer coisa entre zero e bilhões. Derivativos foram à peça central para o colapso de empresas financeiras como a Barings em 1995, a Enron em 2002, Banco Santos em 2005, Leman Brothers em 2008, Banco Panamericano em 2010, apenas para mencionar alguns casos.


Aparentemente chegou o limite das tecnologias convencionais de auditoria, devemos pensar em formas alternativas de auditoria e a divulgação de seus relatórios, que hoje são em suma padronizados e pouco elucidativos.


A profissão tornou-se polêmica durante a última década, face aos escândalos ocorridos (Operação Lava Janto, Operação Zelotes, Operação Greenfield, etc.), ter a noção exata da responsabilidade nem sempre é uma tarefa simples. Pode ser verdade que os auditores não executam o seu trabalho conforme esperado, em muitos casos, uma falha de negócio está intimamente relacionada com as ações tomadas por um gerente ou acionista dominante. O fato de que tais pessoas (gerentes ou acionistas) podem estar envolvidas em atos fraudulentos ou dolo, sem entraves poderiam indicar uma grave falta de controle da empresa. Nessas situações, a eficiência das estruturas de governança corporativa que deveriam ter detectado qualquer comportamento ilegal ou antiético dos dirigentes tiveram falhas graves.

Conclusão


Os auditores estão sujeitos a riscos e responsabilidades legais. Dado o ambiente econômico em mudança, a globalização da indústria, as transações comerciais cada vez mais complicadas e a contabilidade financeira, os auditores estão enfrentando crescentes dificuldades em seu trabalho. No entanto, os investidores públicos tendem a colocar expectativas crescentes nos auditores devido a objetivos do contrato, tomada de decisão e aversão ao risco. Além disso, com as melhorias graduais nas leis e regulamentos de auditoria, os riscos e responsabilidades legais das empresas de auditoria e dos auditores por não realizarem a auditoria adequada tornam-se cada vez mais explícitos.


Auditores mais experientes vêem que a auditoria e as inovações tecnológicas são relativamente lentas e tardias, resultando em desenvolvimento desequilibrado e em um fosso crescente entre as expectativas dos investidores e a capacidade dos auditores. Essa lacuna intensifica ainda mais o estresse dos auditores e aumenta os efeitos do estresse no comportamento e na qualidade da auditoria.


Responsabilizar os auditores por problemas não identificados nas demonstrações financeiras contábeis parece ser uma atitude já tomada pela SEC (EUA) e CVM (BR), afinal quantias tão elevadas de distorções nas demonstrações financeiras contábeis (decorrente de fraude, erro ou omissão) não podem simplesmente aparecer e desaparecer na contabilidade de uma empresa.



Tema sugerido pelo meu grande amigo e parceiro de muitos trabalhos de auditoria Carlos Silva para os íntimos Chubbi.

Fonte:


How does auditors’ work stress affect audit quality? Empirical evidence from the Chinese stock market <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1755309116300235?via%3Dihub>



54 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page